Bacafá

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segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Admirável mundo novo.

Nesse fim de ano me redimi de um dos meus pecados (por inércia) literários: li Admirável mundo
novo, de Aldous Huxley, que estava na prateleira da minha estante já há alguns bons anos (sim, sim, sei, vergonha...). Eu diria que esse livro é de leitura obrigatória em conjunto com 1984, de George Orwell. Não sei dizer qual seria a ordem mais indicada de leitura (1984 é de 1948 e Admirável de 1932). Embora circunstancialmente tenha lido 1984 antes, parece-me que, para quem ainda não leu nenhum dos dois, começar por Admirável pode ser mais interessante. De qualquer modo, a meu ver, se completam.

O pior de tudo isso é que sinto que hoje estamos - a humanidade - em algum espectro entre o Admirável mundo novo e 1984. Ou seja, entre as maravilhas das facilidades e benesses da tecnologia e sob os olhos onipresentes do grande irmão (que, no nosso caso é uma mistura de governos do mundo todo e Google/Microsoft/e afins).

Do 1984 falei, há mais ou menos um ano, algumas coisas aqui, aqui e aqui.

Do Admirável mundo novo falo um pouco hoje. Começo pelo prefácio (apenas o primeiro parágrafo de 14 páginas) escrito pelo próprio autor para a edição de 1946:

"Todos os moralistas estão de acordo em que o remorso crônico é um sentimento dos mais indesejáveis. Se uma pessoa procedeu mal, arrependa-se, faça as reparações que puder e trate de comportar-se melhor da próxima vez. Não deve, de modo algum, pôr-se a remoer suas más ações. Espojar-se na lama não é a melhor maneira de ficar limpo." 

O livro começa com um soco no estômago. Demorei um pouco para entender, me situar. E Aldous escreve bem. Não tem como não ficar curioso de como as coisas vão se desenrolar. Principalmente se formos identificando as "previsões" dele com nosso mundo real atual. A curiosidade é sobre nosso próprio destino mesmo.

Lá pelas tantas:

"Porque o nosso mundo não é o mesmo mundo de Otelo. Não se pode fazer um calhambeque sem aço, e não se pode fazer uma tragédia sem instabilidade social. O mundo agora é estável. As pessoas são felizes, têm o que desejam e nunca desejam o que não pode ter. Sentem-se bem, estão em segurança; nunca adoecem; não tem medo da morte; vivem na ditosa ignorância da paixão e da velhice; não se acham sobrecarregadas de pais e mães; não tem esposas, nem filhos, nem amantes, por quem possam sofrer emoções violentas; são condicionados de tal modo que praticamente não podem deixar de se comportar como devem. E, se por acaso alguma coisa andar mal, há o soma."

Não continuo para não dar spoiler para quem ainda não sabe o enredo. É ou não um discurso sedutor? É ou não um discurso conhecido, embora com outras referências.

Para finalizar:

"A felicidade nunca é grandiosa."

domingo, 15 de janeiro de 2017

Delacroix escapa das chamas.

Meus caros raros leitores, sobre o livro que consta na postagem abaixo:

http://bacafa.blogspot.com.br/2009/07/delacroix-escapa-das-chamas.html

Emprestei para alguém e não lembro. Se alguém souber ou se estiver com alguém, e puder me avisar, eu agradeço. Muito alguém num texto tão pequeno...

sábado, 14 de janeiro de 2017

Férias e segurança digital.

As férias acabaram para uns e estão acabando para outros, mas os cuidados abaixo sugeridos ainda valem, independentemente de datas. Fica a dica.

Publicado originalmente no www.rlb.adv.br.

As férias de final de ano estão chegando, comemorações, diversão, descontração. Provavelmente descanso e festividades merecidos para a maioria. Entretanto, nem todos param. E se antes a preocupação era com a casa, e a solução era pedir para o vizinho ficar de olho ou a polícia fazer a ronda na rua, hoje em dia o inimigo é praticamente invisível…
A tecnologia trouxe – e continuará trazendo – muitas comodidades. E muitas preocupações. E muitos problemas para os mais incautos. Por isso algumas recomendações simples sobre os mais simples dos problemas nessa área.
Para quem já ouviu falar da internet das coisas (IoT), não é novidade do quanto equipamentos eletrônicos podem ser os suspeitos entre nós. Qualquer dispositivo eletrônico ligado à grande rede pode ser um canal aberto para os bandidos tecnológicos. Para se ter ideia da vulnerabilidade, dois casos (cujo mérito, por conta do espaço, serão abordados nos próximos textos): (1) existem sites que divulgam imagens de câmeras espalhadas pelo mundo inteiro escolhidas aleatoriamente. Sem autorização! Do quintal da casa à cozinha do restaurante. (2) No começo do ano um cracker filmou, através de uma smartTV um casal em cenas íntimas quentes.
E isso é só a ponta do iceberg.
Nossos smartphones têm muito mais informações a nosso respeito do que podemos supor. Então ficam duas dicas simples: (1) não utilizar programas com acessos a informações sensíveis (e-mails, apps de bancos, acessos a arquivos de trabalho) em redes abertas e (2) desligar os geolocalizadores dos apps de suas redes sociais. São dois motivos principais: o marginal pode saber onde você está ou não está (o que pode ser ainda mais interessante para uma mente criminosa) ou você pode ser vítima de um stalker (perseguidor) – e esse recado serve principalmente para adolescentes e mulheres. Se sua rede social indica para amizade alguém que você não conhece, provavelmente você esteve recentemente no mesmo ambiente que essa pessoa.
Por fim, aquela dica que todos já conhecem: não fique postando fotos em tempo real de todos os lugares que você está e nem de todos os bens (carros, casas, brinquedos caros novos) que você tem.
Privacidade, liberdade e segurança têm seu preço.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Calvin e a música.

Porque hoje é sexta-feira, 13 e porque Calvin é Calvin!!


quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Reflexões sobre a liberação das drogas;

Muito se fala e muito se contesta sobre a liberação das drogas. Poucos, afora os especialistas em
saúde e segurança, param para efetivamente tratar ou pensar o assunto com a seriedade e a imparcialidade merecidas.

No texto a que remeto pelo link abaixo, de Alberto Benegas Lynch, visto no site Instituto Ordem Livre, algumas reflexões sobre o tema. Concordo com algumas, discordo de outras. De todo modo, é indispensável e urgente que toda a sociedade acorde para essa discussão.

http://ordemlivre.org/posts/32-reflexoes-pela-liberacao-das-drogas--33

Contra ou a favor, os argumentos e sustentações não podem ser falaciosos.

O texto me lembrou o depoimento de um ex-policial dos EUA defensor da liberação da venda de drogas via internet (vi num documentário sobre a dark web). Resumidamente, ele aponta que com a venda nesses moldes a violência cai drasticamente. Em algum ponto das reflexões do link acima esses entendimentos convergem.

O fato é que o que foi feito até agora para acabar com o tráfico não funcionou. Nem aqui, nem nos EUA, nem na Europa, nem em lugar nenhum do mundo. É hora de repensar.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Mais dO homem duplicado.

Para finalizar sobre o livro O homem duplicado, e complementando as frases de ontem, mais

algumas. Dessa vez, sobre dúvidas, angústias e covardias (ou qualquer outra coisa que o leitor entender melhor):

"Aquilo a que certa literatura preguiçosa chamou durante muito tempo de silêncio eloquente não existe, os silêncios eloquentes são apenas palavras que ficaram atravessadas na garganta, palavras engasgadas que não puderam escapar ao aperto da glote".

"é impossível não ter inimigos, que os inimigos não nascem da nossa vontade de os ter, mas do irresistível desejo que têm eles de nos terem a nós".

"As pessoas podem mudar de uma hora para outra continuando a ser as mesmas".

"o diabo não faz planos, aliás, se os homens fossem bons, ele nem existiria".




E a frase que inicia o filme e que me faz pensar que se aplica a tudo:

"O caos é uma ordem por decifrar".

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Ainda sobre O homem duplicado - e a incompetência humana.

Alguns trechos do livro (O homem duplicado, de José Saramago) que especialmente servem para pensar... (com a grafia e pontuação originais).

Sobre a incompetência humana:

"Tanto é o que precisamos de lançar culpas a algo distante quando o que nos faltou foi a coragem de encarar o que estava na nossa frente".

"Não se pode exigir a toda a gente que seja sensata, Por isso o mundo está como está,".

"Ao contrário do que julga o senso comum, as coisas da vontade nunca são simples, o que é simples é a indecisão, a incerteza, a irresolução".

"O melhor caminho para uma desculpabilização universal é chegar à conclusão de que, porque toda a gente tem culpas, ninguém é culpado".

"O mundo não tem mais problemas que os problemas das pessoas".

"Não se deixe enganar, o senso comum é demasiado comum para ser realmente senso, no fundo não passa de um capítulo da estatística, e o mais vulgarizado de todos".

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

O homem duplicado e o ano novo.

Nada como começar o ano literariamente bem acompanhado. E José Saramago é um excelente companheiro. Há cinco anos comecei a ler O homem duplicado e por conta daquelas circunstâncias que não se explicam e livros lidos ao mesmo tempo acabei não terminando, embora a leitura estivesse adiantada. Pois bem, acabou. Ou acabei.

Esse (como sói ocorrer com todos os textos de Saramago) é o típico livro que não se encerra com a última linha. O que eu faria se, do nada, encontrasse uma pessoa exatamente igual a mim? Não um gêmeo perdido, mas um igual, um absolutamente igual, inclusive nas cicatrizes? O que você faria?

Em tempos de superexposição na internet e avalanches de selfies, onde nossa identidade volta e meia se perde dada a necessidade generalizada de sermos todos bonitos e felizes, e onde queremos ser diferentes sendo iguais a todo mundo, essa hipótese se torna ainda mais enigmática.

Entretanto, cometi um pecado. Vi o filme O homem duplicado já em seguida (com Jake Gyllenhall, e direção do atualmente festejado Denis Villeneuve). A película não é ruim, não mesmo. Mas falta a intensidade das personagens da caneta de Saramago - o que é perfeitamente natural. A angústia do filme não chega aos pés da expectativa das páginas.

Se quiser ver um bom filme (não um filme booommm), é uma sugestão - só não me pergunte da aranha. Se quiser ler um livro denso, melhor que o filme, recomendo. Se optar pelos dois, leia o livro antes.

Ao longo da semana repassarei alguns trechos do livro. Sem spoiler.