Bacafá

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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Um queise de sucesso.

Às vezes me pergunto (e não poucas): em que country eu live? Minha dúvida advém das inúmeras americanizações ou “inglesizações” do nosso vernáculo. Podem chamar de estrangeirismos, neologismos ou o que quiserem. Para mim parece das três uma: ou é preguiça de pensar e buscar uma palavra que se ajuste em português; ou é ignorância (eventualmente disfarçando uma burrice) pelo desconhecimento da própria língua; ou é estrelismo ou exibicionismo, características daquelas pessoas que querem mostrar como estão atualizadas ou, no palavrório delas, como estão in.

É terrível. Doem meus ouvidos. Tantas palavras belas na língua que consagrou Luís Vaz de Camões, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado, José Saramago, dentre tantos inúmeros outros. E tanta gente moderna americanizando tudo.

Outro dia em uma reunião alguém falou de uma campanha. Ao final do evento um dos participantes perguntou ao idealizador do projeto: “- Quando você vai startar a campanha?” Startar? Istartar? Um verbo aportuguesado de uma palavra americana? Óbvio que esta palavra só deve ter sido utilizada por falta de sinônimo em português. Começar, iniciar, principiar são verbos não inventados ainda na nossa linguagem.

Mas tem coisa pior invadindo as faculdades. Mandam os alunos fazer um paper de um case. Eu escuto o seguinte: um peiper de um queise. No meu tempo nós estudávamos casos e fazíamos trabalhos, resenhas, artigos. Peiper, queise... Entre um e outro podemos ter um cófi breique, o tal do cafezinho, ou melhor, intervalo para o café. No fim da tarde um répi-áuor, pois ninguém é de ferro.

Hoje em dia não se liga mais o som, se dá o plei. O tocador virou cedê pleier. As festas de música eletrônica viraram reives, Não se tem mais contatos profissionais, apenas netiuôrque. Os elos viraram linques. As promoções viraram ófi. É até engraçado ver os transeuntes falando “cinqüenta por cento ófi de desconto”. E ninguem mais entra nas filas para comida em quilo, agora é sélvi-sérvice. Se for de carro é draivi-tru.

Já vi o cúmulo de um consagrado apresentador (que eu até botava fé) pedir à produção para “frisar” uma imagem. Por um instante minhas sinapses entraram em curto tentando entender o que ele queria dizer. Quando a imagem congelou infelizmente compreendi... ele quis dizer “freezar”. Ai, ai... Essa palavra deve ser prima de “startar”.

Isso sem contar a pronúncia sofrível de alguns desses modernosos. Os verdadeiros metrossexuais da língua portuguesa. Não sou purista e muito menos xenófobo. Gosto de muita coisa que vem de fora. Sei que muitas palavras, desde sempre, incorporaram-se muito bem ao nosso vocabulário, vindas da França, da Espanha, das Arábias e mesmo dos países de língua inglesa. Algumas são tão peculiares que traduzir soaria estranho. Mas não precisamos inventar moda quando já existem palavras com significado claro em nossa língua. Ou não sabe falar português, cara-pálida? Vá procurar um dicionário.

No final das contas, fico aqui pensando com meus botões: num país em que algumas pessoas elevam sertanejo furreca a nível universitário não dá para esperar muita coisa mesmo...

A música do Zeca Baleiro retrata um pouco essa piada:

2 comentários:

Marina Carla disse...

Boa! Adorei sua postagem e estou compartilhando. Também acho que o pessoal anda inventando , sendo que nosso idioma tem palavras belíssimas!

genésia disse...

Boa. Compartilho tb. Genésia