Bacafá

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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Finados e mortos.

No dia 02 de novembro comemora-se o dia de finados pela Igreja Católica (como curiosidade: os portugueses comemoram o dia dos fiéis defuntos). Dizem alguns historiadores que os cristãos já rezavam por seus entes queridos falecidos desde o século I ou II (dependendo a fonte), visitando seus túmulos. No século V, então, a Igreja Católica decidiu dedicar um dia do ano aos mortos, para que se rezasse pelos que ninguém rezava ou lembrava.

Embora muitas vezes carregado de tristeza decorrente da saudade, em alguns casos realmente é o único dia que a família lembra do túmulo do parente morto. Já freqüentei muito cemitério, e muitas vezes, principalmente quando pequeno, me perguntava porque alguns túmulos estavam tão reluzentes e outros tão abandonados, sem qualquer sinal de cuidado. E isso independia do tamanho ou do luxo da residência final do falecido.

Claro, diversos poderiam ser os motivos. Desde o simples abandono mesmo, até a morte dos demais parentes que cuidavam daquele túmulo, passando por viagens definitivas para outras cidades ou países.

De todo modo, sempre me impressionei com o final de semana pré dia de finados. Muita gente com vassouras, baldes, detergentes, panos, velas novas. Flores, muitas flores. Naturais. Artificiais. Coloridas, quase sempre muito coloridas.

Eu nunca sabia se todas aquelas pessoas estavam ali por causa de seus filhos, pais, irmãos, tios ou avós mortos ou se estavam ali por conta dos vivos. Preocupados com o que os outros vivos poderiam pensar do seu relaxamento se não limpassem o túmulo pelo menos naquela semana. Preocupados seja com os vizinhos de suas casas, seja com os vizinhos de cemitério.

Coincidentemente no mesmo dia comemora-se, no México, o dia dos mortos. As grandes diferenças são que esta é uma verdadeira festa e sua origem não é européia ou católica, mas indígena. É uma comemoração anterior à vinda dos espanhóis para a região e outros países da América Central também a festejam.

É uma festa extremamente animada onde, dizem, os mortos vêm visitar seus parentes, sendo recebidos com muitos doces, bolos e guloseimas. Tudo muito colorido, divertido e com muita música. De tão entusiasmada, a festa é referência turística já há algum tempo, recebendo visitantes do mundo inteiro.

Entretanto, o que significa tudo isso?

Serve, no mínimo, para lembrarmos da nossa condição de “temporários” na vida. Tristes pela saudade ou felizes pelas boas lembranças, ou mesmo pela animada festa do dia dos mortos mexicano, serve – ou deveria servir – para relembrarmos que o importante é vivermos intensamente.

É inevitável que tenhamos que trabalhar – salvo algum herdeiro bilionário por aí -, que tenhamos que nos preocupar, que tenhamos compromissos nem sempre muito agradáveis. Entretanto é perfeitamente evitável que tudo isso seja o mais importante em nossas vidas.

E se não conseguimos parar para refletir e repensar nossos atos no dia-a-dia pelas atribulações normais, que pelo menos no dia dos que não estão mais aqui, nós, ainda vivos, consigamos determinar nosso futuro.

Se a vida de quem nos lembramos nesse dia foi boa e bem aproveitada, que a tenhamos como exemplo. Se não foi, que aprendamos com os seus erros. Se foi curta demais, que nos sirva de alerta que no próximo dia 02 de novembro em vez de estarmos lembrando poderemos ser os lembrados.

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite Raphael,

Visualizei seu bog por mero acaso.
Parei, com se fosse num caminho, e visse algo, que me despertasse a atenção.
Senhor Advogado, você escreve muito bem!
Vi seu blog de norte a sul, de este a oeste, e os seus temas são diversificados, e até tem poesia.
Quanto a esse texto, e porque também sou católica, percebo muito bem as suas interrogações, que são, também, as minhas.
Nos cemitérios e nesses dias se fazem amizades, futuros compromissos e novos conhecimentos.
Afinal, o morto já está morto!
Continuação de bom feriado.
Não sei o que significa o nome do seu blog. Fico curiosa.

Abraço.

afectosecumplicidades.blogspot.com

Raphael Rocha Lopes disse...

Oi Luz.

Muito obrigado pela visita e pelos elogios. E seja sempre bem-vinda.

BACAFÁ é, na realidade, uma prato culinário composto com BAnana, CArne e FArofa. A receita está li na coluna da esquerda, bem no início, no "Receita". É só clicar no "experimente".