Bacafá

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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Slow down.

Vivemos em mundo de pressa, de premência, de urgência, de imediatidade. Temos toda a modernidade que não tínhamos há pouco tempo. Os idealizadores dessas bugigangas imaginavam “criar” mais tempo para seus usuários. E aconteceu justamente o contrário; ficamos escravos delas. O celular provavelmente está no topo da lista dos escravizadores modernos.

Confesso aos leitores que esse assunto me veio à cabeça hoje à noite quando estava desligando meu computador no trabalho. Ele é o que podemos chamar de um “lentium”. E hoje demorou um pouco mais do que o usual para se apagar. Enquanto ele fazia suas sinapses de desligamento, eu já estava agoniado pensando no que ainda tinha que fazer.

Então me lembrei de quando comecei como estagiário em um escritório de advocacia lá em Florianópolis. Meados de 1992. O advogado com quem eu diretamente trabalhava tinha acabado de comprar um computador. O advogado do outro estagiário ainda produzia com a máquina elétrica. Já era um avanço, pois tinha um terceiro advogado que fazia suas petições na máquina de escrever comum.

A impressora que eu utilizava era matricial e o papel formulário. Uma impressora matricial corre para lá e para cá algumas vezes para produzir uma linha. Quanto mais moderna, mais rápida. E aquela não era das mais modernas. Mais rápida do que uma máquina de escrever, elétrica ou não, mas infinitamente mais lenta do que a mais lenta das impressoras de hoje em dia.

Certa ocasião, o outro estagiário, um dos advogados e eu conversávamos sobre a velocidade da impressora e do computador. Eu elogiei a velocidade do equipamento, pois eu sempre terminava as petições mais rapidamente que meu colega estagiário, e foi quando o advogado falou: “Vai chegar um tempo que essa velocidade vai ser ridícula de lenta”.

Pensei com meus botões: “Pra que algo muito mais rápido do que isso?”

Hoje as palavras premonitórias daquele advogado ainda valem. Haverá equipamentos ainda mais rápidos e já estamos ávidos por eles. O computador liga e desliga quase instantaneamente e estamos agoniados porque parece que demoram. A mensagem que mandamos hoje para o outro lado do mundo de forma magicamente imediata, há menos de cem anos levava dias, semanas ou meses, dependendo do cafundó do Judas do destino.

Vivemos em pressa. Até a comida virou fast food. Nem esse momento, dos mais sagrados do ser humano, escapou.

E só lembramos-nos de puxar o freio de mão quando alguém perto de nós morre ou vai parar no hospital por estresse. Ainda assim, lembramos por poucos dias ou semanas.

Por outro lado, preocupados com essa vida urgente e desvairada que estamos levando, um grupo resolveu criar um movimento chamado Slow food, que objetiva fazer com que se aprecie melhor a comida, que se valorize o produto e o produtor e que se respeite o meio ambiente.

Desse movimento surgiu, dentre outros, o Cittaslow, que busca melhorar a vida nas cidades diminuindo o ritmo alucinante que vivemos, valorizando o patrimônio histórico e espaços públicos e repensando tráfego e trânsito.

Esse conjunto de tentativas de frear a agonia moderna é conhecido como Slow movement ou Movimento lento. Serve, no mínimo para que repensemos nossas atitudes e o quanto investimos do nosso tempo com as pessoas que amamos ou queremos bem. E o quanto cuidamos da nossa saúde física e mental para chegarmos ao futuro com disposição para curtir o que nos resta da vida.

Um comentário:

Gustavo disse...

Pois eh Raphael, estamos vivendo num mundo cada vez + frenético, e na mesma velocidade vamos perdendo nossa saúde. Nosso organismo não trabalha com excelêcia com toda essa "pressão".
Sábio é aquele que consegue conduzir sua vida, fora desse sistema enlouquecedor...
Quem sabe, colocar o cuidado com sua saúde como prioridade, é o começo em busca do sonhado "EQUILÍBRIO" !