Bacafá

Bacafá

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Gente cansada e alegria.

Tem gente que é cansada por natureza. Semana passada, indo almoçar a pé, passou por mim uma mulher desse tipo. Não conseguia levantar os pés para andar. Arrastava no chão suas sandálias como se carregasse uma tonelada em sua bolsa. E, além de nova (jovem em idade somente), não parecia estar doente nem nada disso. Quantos de nós conhecemos pessoas assim? Quantos de nós somos assim?

O fato é que gente que arrasta os pés para andar transmite uma sensação de má vontade, de “não estou nem aí pra nada, nem pra mim”, de falta de amor-próprio, excluindo-se, por óbvio, os casos de pessoas que têm algum tipo de restrição física.

Essa falta de ânimo para levantar as próprias pernas para andar vai se refletir nessa mesma falta para qualquer outra coisa. Vai ser, provavelmente, uma vida à toa. Ou uma pessoa à toa na vida.

Pura displicência de viver.

E para o que mais serve a vida senão para viver? Adianta viver, então, emburrado, de mau humor, cansado antes de fazer qualquer coisa, reclamando de tudo e de todos, com preguiça de tudo, inclusive de pensar (a pior das preguiças)?

Se não adianta, se a vida com mau humor e preguiça não muda muita coisa – apenas serve para irritar mais pessoas ou para se ficar ainda mais irritado – por que não aproveitar a tal da vida com mais disposição, com mais entusiasmo, com mais vontade, com mais alegria?

Já falei, aqui, sobre a preguiça, recorrendo ao livro mais conhecido de Dante. Em verdade, quem nunca teve uma crise de preguiça, quem nunca se sentiu lasso que jogue a primeira pedra. Ninguém jogará. Faz parte da vida, claro. Mas transformar esses momentos em indolência contínua não faz bem sequer à alma, ao espírito. Assim como não o faz o mau humor crônico, um verdadeiro sinônimo de chatice. Quem agüenta um turrão que reclama de tudo e para quem nada está bom? Pois é.

Por conta destes pensamentos lembrei-me de um livro que encontrei anos atrás na estante da casa de praia de um querido tio. E que ainda não devolvi. Na realidade, veio-me à cabeça um dos contos, chamado justamente “Alegria”.

O livro é de um escritor polonês judeu que até então eu desconhecia chamado Isaac Bashevis Singer, cuja história é tão interessante quanto os contos desta obra (“47 contos de Isasc Bashevis Singer”).

Este “Alegria” conta a história do rabino Bainish, que, quando o terceiro filho morreu, parou de rezar pelos demais que também estavam doentes, e que passou a duvidar de tudo o que sempre acreditou quando sua filha mais nova Rebecca também se foi, algo inimaginável para alguém na sua posição. Os dilemas e reviravoltas do conto eu deixo para quem quiser lê-lo.

Ocorre que, em seu leito, ao final da vida, com visões singulares, murmurou suas últimas palavras: “Devemos estar sempre alegres”.

Embora isso não seja tarefa das mais fáceis, é importante que consigamos levar uma vida em constante alegria, da qual histórias possam ser contadas depois, da qual tenhamos algo para relembrar, sorrir e rir. Não sabemos se vamos viver mais sessenta minutos ou mais sessenta anos.

Não é justo conosco mesmos, assim, que deixemos para ficar alegres ou para descobrir a alegria nas nossas últimas horas, dias ou anos de vida. Até porque, como eu disse, ainda não temos este poder de previsão.

Um comentário:

Marilene disse...

Filho,um exemplo de pessoa alegre é a tua tia Doracy de 103 anos,que está sempre de bem com a vida.Beijos