Bacafá

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sexta-feira, 29 de julho de 2011

Prefeitura sem prefeito.

Peço aos caros leitores um pequeno esforço para um exercício mental. Tentem imaginar, ainda que hipoteticamente, uma cidade. Uma cidade qualquer. Pequena, pacata. Nada de mais e nada de menos. Apenas uma cidade.

Agora imaginem, caros leitores, o paço municipal, a prefeitura. Do jeito que quiserem. Pequeno ou grande, com ou sem um jardim na frente, com poucos ou muitos servidores. Mas conseguem, estimados leitores, imaginar uma prefeitura sem prefeito? Sem ninguém a comandar?

Pois bem. Fiz esse caminho todo para a pergunta pelo seguinte. Li n'O Correio do Povo, na última quinta-feira, página 17, a seguinte manchete: “Posto do Santo Estevão inaugurado”. Até aí, tudo bem. Boa notícia. Chamou-me mais a atenção, porém, a segunda chamada, um pouco menor: “Nova instalação ainda não conta com médico para realizar o atendimento”.

Pensei com meus botões, não... isso deve ter sido um equívoco, não fariam isso com a população do bairro Garibaldi e vizinhos. Não alimentariam essa expectativa falsa de levar saúde e não incluírem um médico.

Entretanto, lendo a matéria, fiquei eu também frustrado (como deve ter ficado toda a comunidade da região): “Apesar da inauguração, o posto de saúde não conta com médicos para realizar o atendimento à comunidade. Segundo o secretário de Saúde, Francisco Airton Garcia, as novas instalações representam um avanço para a comunidade, antes atendida em uma sala de aula, depois em uma escola adaptada. ‘Com certeza teremos aqui um atendimento de qualidade. Agora, estamos realizando um sonho, com ambientes adequados, que atendem à legislação. Estamos nos esforçando para deixar o quadro completo’, afirmou ontem o secretário.”

Algumas definições do senhor secretário, porém, ficaram meio obscuras para mim. Não sei o que o chefe da pasta da saúde municipal entende por “atendimento de qualidade”, “sonho”, “atendimento à legislação”. Penso que, nesse caso, atender à legislação, atender com qualidade e realizar o sonho da população é bem simples: inaugurar um posto de saúde e haver médicos nesse posto de saúde. Uma fórmula básica. E nem precisa ser gênio em matemática ou sociologia.

O cidadão quando procura um posto de saúde, procura um médico na maior parte das vezes. Procura o posto de saúde porque tem um problema de saúde e o médico é o profissional mais adequado (senão o único) para resolver o problema ou encaminhar aos procedimentos ou especialistas que forem necessários.

Ou será que um fórum de Justiça funcionará adequadamente sem o magistrado para julgar, apenas com os serventuários? Um ônibus só com cobrador e sem motorista? Uma obra só com os pedreiros e sem o engenheiro ou o arquiteto? Uma partida de futebol sem jogadores? Os jurisdicionados ficariam desesperados com a falta de solução de seus problemas judiciais; os usuários do ônibus irritados com o carro parado; o dono da obra preocupado com sua segurança e os torcedores indignados de verem o campo vazio.

O tal sonho aventado pelo secretário não deve ser o mesmo dos cidadãos que moram naquela região e que, não tenho qualquer dúvida, esperavam uma solução completa e não homeopática, gota a gota, no que se refere à instalação daquele posto de saúde. É uma questão de respeito para os eleitores, contribuintes, dos quais parte dos salários deveriam ser adequadamente investidos.

4 comentários:

Anônimo disse...

Lembra do pão e circo? Realmente o povo se contenta com pouco, muito pouco! Vamos realizar sonhos e nos pintar de palhaços, pois a maquiagem está funcionando cada vez melhor!
Martha

Lucimara Deretti disse...

Li no Jornal seu texto "Prefeitura sem prefeito". Sabias palavras!
Com certeza, um desrespeito para a comunidade.

Raphael Rocha Lopes disse...

Martha, você tem razão. Mas ainda há tempo de mudar - você sabe que sou um sonhador.

Raphael Rocha Lopes disse...

Lucimara, obrigado.