Bacafá

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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Contos de quinta: Azul.

As cortinas eram azuis. Um azul forte, mas não agressivo aos olhos. O chão também era azul. De um tom um pouco mais fraco. Os móveis, mesa, cadeiras, tapetes, apoiadores, todos igualmente azuis, nem tão escuros quanto as cortinas e nem tão claros quanto o piso. Os objetos de decoração eram coloridamente azuis, em várias nuances, em diversas composições.

A única janela, de vidros levemente azuis, deixava ver o céu completamente limpo e azul. Nenhuma nuvem. O espelho, cuja moldura era de um azul tão intenso que parecia negro, refletia a minha imagem. Foi quando percebi meu terno – paletó, colete e calça – azul-marinho. A gravata azul escura, com listas azuis um pouco mais claras. E a camisa, azul-clara.

Tanto azul sobre azul estava me deixando tonto. Completamente zonzo. Parecia estar em um túnel que não ia a lugar algum. Para todos os lados que olhava, o azul sufocava. Teto azul, lustres azuis, sapatos e meias azuis. Parecia até que eu já estava sentindo o cheiro do azul. Um aroma azulado.

A visão cerúlea estava me deprimindo. Estava tendo alucinações com baleias-azuis, que nem azuis na realidade são. Apenas no meu delírio. Muitas íris azuis piscando para mim. Engolindo-me com os olhos.

Nesse universo azul, totalmente azul, reconheço que é a cor que mais odeio, que nunca gostei, que sempre me incomodou, perturbou, tirou o sono ou me afundou.

Só o meu sangue pode ser azul. Nada mais é ou deve ser azul.

Fechei meus olhos, cortei meus pulsos e meu sangue azul inundou a sala de vermelho.

Um comentário:

Kauana disse...

Amei, Rapha!