Bacafá

Bacafá

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Contos de quinta: Acordou tarde.

Acordou tarde.

Acordou tarde. Parecia que tinha levado uma surra gigantesca, sido vítima de uma atropelamento ou de uma farra de drogas no dia anterior inteiro. Nada disso. O pensamento não saía de sua cabeça, não conseguia entender porque aquilo tinha acontecido e porque tinha acontecido daquele jeito.

Há alguns dias já não colocava os pés para fora de casa. Não tinha coragem de encarar ninguém. Sabia que não tinha culpa de nada, mas as pessoas olhavam como se tivesse. Ao menos, tinha essa impressão. Falsa provavelmente. Como falsos queriam que fossem seus sentimentos.

Estava praticamente vivendo entre a cama e o sofá da sala. Mal comia, a televisão ligada ininterruptamente. Não atendia aos telefonemas, bastante insistentes no início, rareando agora. Os amigos provavelmente entenderam o recado. Queria sumir do mundo. Por uns tempos, talvez. Para sempre, talvez.

Seu olhar buscava qualquer coisa no vazio. Sua boca balbuciava o nome. A imagem do corpo o tempo inteiro em sua cabeça. Do sorriso, dos lábios, das brincadeiras, dos abraços, do amor. Tudo lembrava. O coração parecia querer sair pela boca. O ar faltava. As lágrimas sobravam.

Estava vivendo na penumbra. Da casa, da própria vida. Não sentia mais a alma, não sentia mais prazer. Nada mais lhe fazia sentido, nada mais era suficiente. Buscava respostas, e quanto mais buscava, mais se perdia. Não enxergava o futuro, não se enxergava sequer no espelho.

Tomou a decisão que tinha que tomar.

3 comentários:

Eu............. disse...

Estou me sentindo assim hoje: Minha boca balbuciando quase, quase, gol? rs - A imagem das camisas laranjas da holanda, o ar faltando, as lágrimas sobrando... kkk

Merda, viu!!!

jean mafra em minúsculas disse...

uau! gostei muito raphael!!!

K. disse...

Se soubessemos da importância de viver cada momento, seja ele bom ou ruim, não ficaríamos assim, sem saber o que fazer diante de cada situação. Nos sentindo tão impotentes diante de nós mesmos..
Quando o nosso corpo pede que vivamos dias de solidão, precisamos viver, seja porque tudo nessa vida passa..e isso? isso também passa..