Bacafá

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terça-feira, 7 de abril de 2009

Reféns dos filhos.

Texto do sociólogo e professor Victor Alberto Danich.

Vivemos numa sociedade na qual os adolescentes podem ser classificados como seres “sugadores”. Sugam com fruição tudo que os rodeia: seus pais e todos os objetos e afetos que os circundam. Como os elementos de conforto que encontram na casa lhes oferecem tudo fabricado e pronto, sua visão da existência se concretiza no ideal de poupar energias e evitar esforços. Toda a vida familiar gira em torno deles: Discutem-se os programas a selecionar, como deve ser compartido o uso do carro, se é necessário ter ou não celular, o tipo de vestimenta adequada para tal o qual festa, se aquela escola carece ou não de prestigio, ou simplesmente se a posse de determinados objetos os identificam com determinado grupo social.

A criança-adolescente, na sua posição de “sugador”, não percebe o esforço que é realizado por seus pais para a obtenção desses elementos de status, e faz a idéia que tudo chega às suas mãos da maneira mais fácil. Sua conduta de “sugador” logo o transformará num caçador incansável de status, tratará de acumular objetos de conforto para nunca sair dessa condição, que seguramente a incorporará como um projeto de vida.

No entanto, eles não são “pequenos monstros”, são apenas nossos filhos influenciados pela mobilidade social relativa, onde os meios de comunicação e os membros da mesma idade funcionam como agentes de formação, transmitindo e estimulando essa nova mentalidade de status. Na nossa sociedade existe uma tendência acentuada a generalizar os problemas na esfera psicológica. Tem-se futuro ou não, se é um triunfador ou um fracassado. Este processo se sintetiza no despertar cedo do jovem para a ambição e a vida adulta, usando-se um critério tanto otimista como desalentador. Otimista porque propõe metas que supostamente todos podem alcançar. Pessimista porque a exclusão atinge aqueles que não se enrolam na competição.

O jovem vê a sociedade como meio de conquista do que incorporação na mesma, onde esse impulso para “o grande salto” lhes permite assumir rapidamente o papel de adulto. Incorpora-se a mesma ambição de status: o carro o km, o celular próprio, as férias nos melhores centros recreativos. Termina-se assumindo uma espécie de jogo lúdico de adulto. Nessa fase de crescimento, existem muitos adolescentes que não apenas “imitam”, senão que “atuam” como adultos.

Por outro lado, os jovens rejeitam certos valores e aceitam outros. Rejeitam aqueles que exigem esforço e tempo de maturação, e assumem aqueles mais rápidos de assimilar: a conduta adulta exterior. Como escapar dessa armadilha? Como fazer acreditar a nossos filhos que existem outras formas de organizar a vida social? Será que devemos remodelar o rito de passagem para a vida adulta?

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